Envelhecimento da população vai aumentar número de brasileiros com osteoporose

Ao longo da pandemia da covid-19 diversas doenças ficaram de lado nos cuidados dos brasileiros com a saúde e, agora, em um cenário pandêmico mais controlado, o foco se volta para enfermidades que exigem atenção especial, como é o caso da osteoporose. Em um artigo inédito prestes a ser publicado na revista britânica The Economist, que mostra que, em 2025, o Brasil pode ter a sexta maior população idosa do mundo, pesquisadores brasileiros indicam que, diante do envelhecimento da população, o Sistema Único de Saúde (SUS) pode ficar sobrecarregado com pacientes portadores de doenças ósseas.

“A alta incidência de fraturas osteoporóticas custa tanto aos pacientes quanto à sociedade. Tratamento, cirurgias, estadias no hospital e despesas de reabilitação estressam o sistema público de saúde. Segundo especialistas, é esperado que o Sistema Único de Saúde (SUS) fique sobrecarregado com pacientes com doenças ósseas, o que pode levar a um colapso na capacidade do hospital”, anuncia o artigo.

Por isso, se faz urgente a necessidade de melhorar a prevenção da doença do país e a busca por novos tratamentos. Um dos autores do ensaio, o médico e vice-presidente da Comissão Nacional de Osteoporose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Ben-Hur Albergaria, indica que o artigo tenta trazer um senso de urgência para o debate do tema, no sentido de que é preciso amenizar os gargalos que existem na prevenção e no tratamento da doença no Brasil.

A falta de um olhar mais atento à osteoporose pode afetar a saúde da população. E a magnitude do ônus econômico, por conta da má saúde óssea, fica ainda mais clara quando se observa uma população específica. É o que indica o material, que usa como exemplo um grupo de mulheres de 36 a 93 anos que fizeram uso de medicamentos de alto custo fornecidos pelo SUS para tratar a osteoporose pós-menopausa.

“A média de despesas mensais per capita no primeiro ano de tratamento foi de cerca de R$ 260, aumentando gradativamente com a idade, e o gasto foi 55,8% maior para as mulheres que sofreram fratura osteoporótica em comparação com aquelas que não tinham”, versa o documento.

As fraturas são o desfecho mais temido da doença e geram uma carga ainda maior sobre o sistema de saúde. “As fraturas de fêmur, por exemplo, têm efeitos devastadores. No Brasil, assim como em outros lugares do mundo, 25% dos pacientes que sofrem uma fratura de fêmur morrem no primeiro ano pós-fratura. Os casos que não vão a óbito têm uma perda definitiva de independência gerando ônus econômico para os recursos da saúde, para a sociedade etc”, pontua Ben-Hur.

Obstáculos

Outra preocupação do médico é que, diante do aumento da expectativa de vida no Brasil, há também o crescimento da população mais suscetível a fraturas osteoporóticas. Segundo estimativas indicadas no artigo, até 2050, 30% da população total do Brasil será composta de indivíduos com mais de 60 anos. “São projeções que nos preocupam porque o sistema certamente não vai ser capaz de absorver essa demanda, pois já temos limitações atuais”, destaca o especialista.

Entre os gargalos atuais do sistema de saúde para a prevenção e o tratamento da doença estão alguns pontos como a falta de campanhas de conscientização da osteoporose e o conhecimento da doença por parte da população. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria Kantar, em parceria com a Amgen, 40% das mulheres brasileiras não conversam com o seu médico sobre a saúde óssea porque isso não é algo preocupante (veja arte).

“Apesar de já termos avançado muito, a osteoporose não é uma prioridade de saúde nem pública nem privada”, indica Ben-Hur.

Outro obstáculo atual encontrado é a questão do acesso ao tratamento. “Temos uma necessidade não atendida que diz respeito aos pacientes que têm um alto risco de fratura. Temos boas ferramentas para tratar a grande maioria dos pacientes que têm um risco básico de fraturar.

Mas, para aqueles pacientes de alto risco, nós precisamos de medicações mais potentes e que esse acesso seja feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) porque são medicações com um custo elevado”, explica o médico.

Consulta pública

A expectativa para a inclusão de novos medicamentos para tratar a osteoporose no SUS é alta já que estão abertas, até o dia 25 de abril, três consultas públicas para avaliar a inclusão de novos tratamentos para os casos graves da doença. Um deles é o denosumabe, anticorpo monoclonal injetável que, com duas aplicações anuais, pode manter a densidade óssea, reduzindo o risco de fraturas.

A partir das consultas, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), órgão responsável por recomendar os medicamentos e procedimentos que devem ser ofertados pelo SUS, irá avaliar a proposta de incorporação dos tratamentos no serviço público de saúde.

Para a diretora da Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Pérola Grinberg Plapler, a consulta é fundamental para trazer consciência da importância de cada uma dessas drogas no tratamento da doença.

“Existe um nicho de pacientes que precisa efetivamente desses remédios. Porque se eu não dou esse remédio, eles quebram. E a fratura e a internação deles têm um custo muito maior do que o valor desse medicamento. Além do custo emocional para essas pessoas”, avalia.

Doença é mais comum no sexo feminino

A osteoporose é mais comum entre as mulheres já que a queda do estrógeno, decorrente da menopausa, traz diversos problemas para o corpo feminino.

Quem explica é a diretora da Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Pérola Grinberg Plapler. “É o que acontece em relação à osteoporose. Porque o estrógeno aumenta as células que produzem ossos e impedem as células que retiram o osso de trabalhar exageradamente. Então, ele promove um equilíbrio no metabolismo ósseo.”

Ela alerta que o início da menopausa é a época em que as mulheres mais devem se preocupar com a doença, já que a redução na massa óssea é muito significante.

De acordo com a especialista, ainda, a prevenção não medicamentosa para a doença é feita por um tripé, composto pela aquisição de vitamina D, por meio do sol ou da suplementação; da atividade física; e da ingestão de cálcio.

A pesquisadora Arlete Assumpção, 76 anos, que descobriu a osteoporose pelo exame de densitometria óssea, fez uso da suplementação de cálcio quando descobriu a doença.

Entre altos e baixos, a paciente comemora o fato de ter conseguido continuar rotina. “Estou na ativa até hoje como professora do ensino superior em uma importante instituição de ensino de São Paulo”, afirma a professora da Universidade de São Paulo (USP).

Medicamentos

Já o tratamento medicamentoso é dividido em dois tipos: drogas que estimulam formação de massa óssea e drogas que diminuem a reabsorção do osso.

Para Pérola Grinberg, a grande vantagem de tratamento nos dias atuais é que existem medicamentos destinados para diferentes tipos de pacientes. “Cada vez mais, a gente tem feito uma avaliação de risco de fratura e, em cima disso, a gente avalia que tipo de tratamento esse paciente precisa”, pondera. *Estagiárias sob a supervisão de Andreia Castro.

Fonte: Jornal Correio Braziliense – DF