Em 2011, o setor de varejo farmacêutico brasileiro passou por um processo inédito de consolidação. Num intervalo de 30 dias, as redes Raia e Drogasil e Pacheco e São Paulo anunciaram fusões, criando os maiores grupos do setor, com vendas superiores a 4 bilhões de reais.
Terceira no ranking, a Brazil Pharma comprou em novembro a rede paraense Big Ben, num negócio de mais de 450 milhões de reais. Neste ano, em fevereiro, a onda de consolidação recomeçou, quando a Brazil Pharma fechou a aquisição das 100 lojas da baiana Sant’ana por aproximadamente 350 milhões de reais.
Especialistas do setor afirmam que o processo deve continuar. Segundo EXAME apurou, diversas redes regionais estão sendo alvo do ataque dos grandes — e a maior novidade, a partir de agora, pode ser a entrada no país das principais empresas do mundo.
O mercado brasileiro de farmácias é muito pulverizado. Existem hoje no país mais de 60 000 farmácias, mais do que nos Estados Unidos. E as quatro líderes têm apenas 25% de participação — no mercado americano, as quatro maiores dominam 60% das vendas.
Outro fator impulsiona a atual onda de consolidação: o varejo de farmácias cresce 19% ao ano. “O setor vai dobrar novamente nos próximos cinco anos”, diz Sergio Mena Barreto, presidente da Associação Brasileira de Farmácias.
Como em qualquer segmento do varejo, tamanho faz a diferença na hora de ganhar dinheiro — as margens, tradicionalmente apertadas, aumentam à medida que as empresas ganham poder de negociação com fornecedores.
Estrangeiros de olho
Embora seja a terceira do setor, a Brazil Pharma é a empresa que demonstra maior apetite para aquisições. Desde 2010, a companhia, controlada pelo banco de investimento BTG Pactual, comprou seis redes regionais. Segundo EXAME apurou, a Brazil Pharma negociou nos últimos meses com um punhado de outras redes.
Entre elas a gaúcha Panvel, que tem 300 lojas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina; a paranaense Nissei, com 200 lojas no Paraná e em Santa Catarina; e a sul-mato-grossense São Bento, com 88 unidades (as três redes afirmam não estar à venda).
Em outubro, a Brazil Pharma também esteve muito perto de comprar a paraense Extrafarma, que tem 170 pontos de venda, mas acabou fechando com a Big Ben, também do Pará. A Extrafarma contratou o Itaú BBA para buscar novos compradores.
“Tem muita gente batendo à nossa porta, já que os mercados de São Paulo e do Rio de Janeiro estão saturados”, afirma Luiz Buainain, presidente da São Bento. Grandes cadeias de supermercados também demonstraram interesse na compra de redes de farmácias.
Dentro do time de compradores estão também três grupos internacionais: as americanas CVS e Walgreens e a inglesa Boots — todas com faturamento superior a 20 bilhões de dólares. “Elas não têm mais mercado para crescer na Europa e nos Estados Unidos, e o Brasil é uma excelente opção”, diz Eduardo Seixas, sócio da consultoria Alvarez & Marsal.
Executivos das três redes estiveram no Brasil em 2011 e conversaram com grupos nacionais. Na mira estavam principalmente as maiores redes regionais, como a paranaense Nissei, com faturamento de 840 milhões de reais. “Em janeiro, recebemos uma equipe da Boots.
Mas só vendemos se pintar uma grande proposta”, diz Sérgio Maeoka, presidente da Nissei. Outra empresa com potencial para atrair o interesse das estrangeiras é a Onofre, que contratou o banco de investimento Barclays para assessorá-la numa possível venda (a Onofre nega que esteja procurando comprador).
Diante da ameaça da chegada de um gigante estrangeiro, as líderes nacionais têm planos de acelerar seu crescimento. A Raia Drogasil, com 770 farmácias, já integrou as equipes de compras e de expansão. Em janeiro, estreou em três novos estados — Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul — e anunciou planos de abrir 100 lojas neste ano.
“Temos 400 milhões de reais em caixa e podemos usar ações como moeda para aquisições”, diz Eugênio de Zagottis, vice-presidente de relações com investidores da companhia. Mesmo as redes locais estão investindo em crescimento orgânico (o que pode ser interpretado, claro, como forma de aumentar o interesse dos grandes).
A Nissei tem planos de abrir 30 unidades em São Paulo em 2012. A Panvel, até pouco tempo concentrada no Rio Grande do Sul, abrirá 30 lojas no Paraná. Quando a consolidação chega a um estágio como o atual, não há alternativa para os pequenos — o jeito é virar grande também.
Fonte: Revista Exame