Apesar da existência de uma política nacional de incentivo, a homeopatia vem encolhendo no SUS (Sistema Único de Saúde) no país. Já na cidade de São Paulo, uma lei recentemente aprovada amplia a oferta da prática na rede municipal.
Promulgada no fim de maio pela gestão João Doria (PSDB), a nova lei prevê a instituição do Serviço de Atendimento Homeopático nos hospitais municipais, que somam 18 na cidade.
Hoje, a prática é ofertada pela prefeitura em 20 locais, dos quais cinco são hospitais e os demais, unidades básicas e centros de medicina tradicional, entre outros. Com a lei, o atendimento homeopático terá que ser ampliado.
A mudança deve ter impacto especialmente para os pacientes que buscam a emergência dos hospitais, prevê Sérgio Furuta, presidente da APH (Associação Paulista de Homeopatia).
Um exemplo prático, segundo ele, seria o de uma criança com febre. “Hoje, mesmo que ela seja acompanhada regularmente por um homeopata, dificilmente vai encontrar um se for a um pronto-socorro”, afirma.
A norma também autoriza o município a fazer convênios com universidades e empresas para o atendimento.
A permissão foi incluída para aumentar a rede de atendimento na cidade, diz o vereador Ota (PSB), autor da lei e também adepto da homeopatia. Para ele, a prática poderia desafogar o SUS, por atuar na prevenção de doenças, mas hoje a oferta dos serviços é pouco divulgada.
Para conseguir um atendimento homeopático, o paciente atualmente procura a unidade municipal mais perto de casa, onde é informado sobre o local em que ele pode encontrar a especialidade.
Dependendo de condições como férias de médicos, a fila de espera pode chegar a um mês e meio, afirma Sônia Regina Miura, responsável pela área na secretaria municipal.
Segundo ela, ao longo dos anos se diversificou o perfil das pessoas que procuram a prática. “Antes, vinha muita criança com bronquite e asma. Hoje, há pacientes com doenças crônicas, problemas de ansiedade, idosos”, diz.
Algumas unidades com mais tradição na área, como a do Bosque da Saúde (zona sul), chegam a atender três gerações da mesma família. A procura, porém, não é uniforme por toda a cidade. A Unidade de Medicinas Tradicionais, no centro, por exemplo, apontou em plano publicado em abril “baixa produtividade” da homeopatia no local.
De acordo com a prefeitura, a meta é aumentar em 20% o atendimento na unidade, que tem capacidade para 40 consultas por semana.
Em relação aos medicamentos, a situação na cidade também é heterogênea. Em alguns distritos, diz a coordenadora da área, há convênios com farmácias homeopáticas.
Em outros locais, porém, isso não ocorre por falta de estabelecimentos interessados, e o paciente tem que arcar com o custo. De acordo com o vereador autor da lei, a ideia é que a possibilidade de convênios com entidades minimize o problema.
Brasil
Especialidade médica reconhecida há 38 anos, a homeopatia faz parte de uma política nacional do Ministério da Saúde voltada a práticas “integrativas e complementares”, como acupuntura, medicina tradicional chinesa, fitoterapia e outras.
Apesar do incentivo, o número de atendimentos feitos pela especialidade vem caindo na rede pública, mostram registros do ministério.
Em 2008, foram realizadas no país 377 mil consultas pela especialidade. No ano passado, apenas 202 mil.
Envelhecimento
De cada dez homeopatas, quatro têm 60 anos ou mais, segundo o estudo Demografia Médica no Brasil. Para especialistas, o envelhecimento dos profissionais pode ajudar a explicar a queda no número de consultas pela especialidade bancadas pelo SUS.
De acordo com o levantamento, em 2015 (dados mais recentes), a média de idade dos homeopatas era de 57,5 anos, a terceira maior entre todas as especialidades médicas.
Para Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP que coordenou o estudo, o fato é condizente com o achado de outro levantamento: a especialidade é uma das menos procuradas por recém-formados.
“A demanda é grande, mas é preciso mais profissionais, mais concursos”, reconhece Ariovaldo Ribeiro Filho, da Associação Brasileira de Homeopatia.
Na sua opinião, a menor procura pela especialidade é condizente com o crescente desinteresse dos médicos jovens pelas especialidades clínicas em geral.
Ele afirma que controvérsias científicas também prejudicam a imagem da prática. Recentemente, pesquisadores da USP voltaram a protagonizar embates sobre a eficácia da homeopatia.
“Sob a perspectiva do paciente, geralmente homeopatas tratam de condições limitadas e em geral benignas, nas quais podem contar com o efeito placebo ou com a recuperação espontânea do paciente”, diz Renan Moritz, da engenharia Biomédica da UFRJ. “Isso dá aos homeopatas alguma proteção. Mas o maior risco é o de não tratar a doença.”
Já defensores da homeopatia defendem metodologia diferente para estudos da área.
Fonte: Jornal Folha de São de Paulo