Uma mudança cultural, em nome da saúde, vai atingir pais e mães de todo o país. O tradicional termômetro de mercúrio – aliado de muitas famílias brasileiras na hora de checar a temperatura das crianças – não poderá mais ser produzido ou vendido por aqui a partir de 1º de janeiro de 2019.
A decisão é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tomada no ano passado, como resultado da convenção de Minamata. Nela, 140 países fixaram acordos para diminuir o uso do mercúrio, uma substância tóxica.
A alternativa será o uso dos termômetros digitais, que já são vendidos no país. A advogada Fabiana Jardim, 44, utiliza ambos para medir a temperatura dos filhos Marina, 6, e Lucas, 3. “Qualquer sinal de queixa deles, eu uso os dois para garantir que a temperatura está correta, pois acredito que um complementa o outro”, afirma.
A digital influencer Letícia Murtha, mãe de Iolanda, 4, só tem à disposição o modelo mais moderno. “Tenho medo de que ela tenha contato com o mercúrio ou com o vidro caso o recipiente quebre”, diz.
Com a proibição da Anvisa, Fabiana conta que vai comprar aparelhos digitais de outras marcas. “Para continuar garantindo o resultado correto, vou ter pelo menos dois em casa para fazer a comparação. Meu maior receio é que eles apontem temperaturas diferentes”, diz.
Para evitar enganos, a eficácia desses aparelhos depende de três fatores essenciais: a bateria, a qualidade do aparelho e o modo como se usa. “Os termômetros digitais são eficazes quando estão com a bateria em dia, quando têm o selo de aprovação do Inmetro e quando se respeita o manuseio”, diz a pediatra Mariane Franco, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria. Isso inclui limpar o aparelho com álcool após o uso, aplicá-lo de novo após alguns minutos (para que não dê medições diferentes) e armazená-lo em lugar adequado”, diz.
São basicamente cinco os tipos de termômetros existentes: o digital comum, que pode ser usado na axila ou no ânus e é o que mais lembra o termômetro tradicional; o de infravermelho, usado na testa; o de ouvido; o de chupeta; e o de fita, que geralmente se cola na testa.
Os mais recomendados pelos especialistas são os dois primeiros, considerados eficazes, mais baratos e mais acessíveis.
Riscos de exposição levaram à medida
A maior preocupação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na hora de proibir a venda do termômetro de mercúrio está nos riscos que sua exposição pode causar ao ser humano.
“É comum acharmos que uma exposição breve não traz riscos, mas todo cuidado é pouco. Cada organismo pode reagir de uma forma, mas o infantil é muito mais frágil, porque seu sistema imunológico da criança está incompleto”, afirma a pediatra Mariane Franco, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Dados do Ministério do Meio Ambiente revelam que a exposição a 1,2 mg por algumas horas é o suficiente para causar bronquite química e fibrose pulmonar em seguida. Isso pode acontecer quando a estrutura de vidro do termômetro quebra, liberando a substância.
Flash
Anvisa. De acordo com um levantamento feito no mês passado, apenas três termômetros com mercúrio têm cadastros vigentes; foram identificados 64 cadastros vigentes de termômetros digitais.