Até a década de 1970, o costume de ir à farmácia do bairro para não só comprar este ou aquele xarope específico, mas também para uma “consulta” com o farmacêutico, fazia as vezes de médico da família, existindo aí uma relação de proximidade com seus clientes.
Contudo, as sucessivas crises econômicas que assolaram o país no decorrer das décadas seguintes, começou a demandar uma gestão mais eficiente do negócio, fazendo com que as vendas “no fiado” praticamente desaparecessem para dar lugar a um modelo mais profissional de gestão de fluxo de caixa, estoques, etc.
O retorno da estabilidade econômica, já pelos anos de 1994, deu ânimo aos empreendedores e o número de farmácias no Brasil começou a crescer. Como exemplo, a rede Pague Menos, originária no Ceará, indo depois para o Rio Grande do Norte, e aos poucos em direção ao Sul do país, é atualmente a terceira rede de varejo, contando no final de 2018 com 1000 lojas. Segundo o site Clinicarx, a composição da estrutura das farmácias no Brasil atualmente é: 56,2% de farmácias de grandes redes, 14,6% de franquias e associativas e 29,2% das independentes, ou seja, os estabelecimentos “sem bandeira” correspondem à 2/3 do total.
A ABRAFARMA – Associação Brasileira Redes Farmácias e Drogarias, criada em 1991, onde estão associadas atualmente 27 redes, com 7240 lojas, ou seja, 9,2% do total de 76.198 estabelecimentos existentes no Brasil. Elas comercializaram em 2018, 68,07% de medicamentos (6,42% genéricos) e 31,93% não medicamentos (produtos de higiene, beleza, etc.)
Em contraponto, em fevereiro de 2000, foi criada a FEBRAFAR – Federação Brasileira de Redes Associativas e Independentes de Farmácias, abrangendo 58 redes, com 9625 lojas, que se uniram para o desenvolvimento de ferramentas para uma gestão mais competitiva.
Num país onde o aumento da expectativa de vida da população chega a 76 anos – maior média da história, segundo dados de 2018 do IBGE, a equação envelhecimento x sistema de público de saúde é difícil de solucionar, sendo que por volta de 2060, a população com mais de 60 anos dobrará e atingirá 32,1% dos habitantes segundo essa mesma pesquisa.
Dentro desse cenário, o que é mais conveniente para o consumidor: comprar diretamente em grandes redes, que oferecem cartões de fidelização, promovem campanhas publicitárias com esportistas famosos, etc., e cujo custo, obviamente estará embutido no preço final, ou a compra em lojas independentes que têm que se alijar de toda a parafernália de marketing e tentar melhorar cada vez mais atributos como proximidade e facilidade de acesso, amabilidade e profissionalismo dos atendentes, mix de produtos e ambiente da loja, prestação de serviços pela farmácia, disponibilidade do produto e por último, preço?
Em outras palavras, humanizar o atendimento, agregando valor através do preenchimento das lacunas que o governo deixa, como ocorre em tantas outras áreas como educação, infraestrutura, etc.
Com a agitação do dia a dia e a proliferação massiva das grandes redes nos últimos anos – podemos dizer que principalmente nos grandes centros, a cada 2 quarteirões encontramos uma farmácia de rede, com muitos produtos de higiene, beleza e até guloseimas como balas, chicletes, etc. E, por conta da comodidade, as pessoas acabam optando por comprar nesses locais, chegando a pagar até 70% a mais se escolhessem as chamadas independentes.
Outro “concorrente” é também o comércio online, embora, segundo dados da Clinicarx, somente 1,2% das compras são feitas fora das lojas físicas, muito provavelmente pela cultura ainda insipiente de fazer compra de medicamentos através da internet, uma vez que existem aqueles casos que é necessária a retenção da receita pelo estabelecimento para efeitos de fiscalização. Contudo, essa forma de compra já foi regulamentada, e sites como o Netfarma realizam a venda dos produtos que devem ter a receita retida através da análise da receita, via celular, por um farmacêutico profissional.
Na região da Vila Brasilândia, periferia de São Paulo, existe a Farmaclick, criada há 40 anos, e faz atendimento online na região com uma competitividade superior a 70% se comparada com uma Drogaria do porte da Onofre, por exemplo.
Já nos estados de Minas Gerais e São Paulo, a Bifarma atua há mais de 30 anos, fazendo atendimento online. Se fizermos comparação semelhante entre Bifarma e Droga Raia, encontramos uma diferença de 18%.
Outro exemplo que temos é a Nova Esperança, no mercado há 41 anos e a Ultrafarma, criada em 2000, que em poucos anos de operação ganhou o prêmio Top of Mind Internet como farmácia online. Seu marketing agressivo fez com que construísse uma carteira de 1 milhão de clientes Brasil afora. Contudo, se pusermos uma lupa em termos de valor, comparando com a Nova Esperança, encontraremos uma média de 64% de variação. Ou seja, apesar do volume e amplitude ser sua arma principal, isso não resulta em economia para o cliente.
Vale lembrar que a expectativa de vida é algo muito presente atualmente e que enquanto existirem essas vidas para serem cuidadas, o business farmácia crescerá na mesma proporção. A questão central é repensar o relacionamento com os clientes, aliando a tecnologia, que sempre será importante, a itens como serviços farmacêuticos – controle de diabetes e colesterol, aconselhamento do profissional farmacêutico, etc., atendimento rápido e eficiente de uma equipe bem preparada.
E nos locais mais distantes, longe dos grandes centros, sua presença é fundamental não somente em termos de preço, mas pelo papel quase que social que presta a uma determinada comunidade. Uma vez reunidos esses elementos, as farmácias independentes devem ganhar um fôlego maior para sua continuidade face ao furacão que são as grandes redes, que com seu marketing agressivo, mas que não traz benefício concreto ao cliente em termos de preço.
Fonte: Panorama Farmacêutico