Em uma corrida bilionária pelo mercado de delivery no Brasil, a colombiana Rappi e a Movile se colocam em polos opostos em suas apostas sobre o futuro dos aplicativos.
Inspirada no modelo que fez sucesso no mercado chinês, a Rappi quer se tornar um “superapp”.
O título, criado para denominar fenômenos como o chinês WeChat, é dado para aqueles aplicativos que reúnem em um só lugar uma infinidade de funções, como envio de mensagens, operações financeiras, contratação de serviços e compra de produtos.
A startup chegou no Brasil em 2017 e anunciou em abril ter recebido um investimento de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4,1 bilhões) do grupo japonês Softbank.
Seu serviço começou tendo como principal foco a venda online de produtos, incluindo refeições, itens de farmácia e supermercados, com entregas feitas por motoboys autônomos.
Neste ano o aplicativo incluiu uma série de novas funções. A variedade vai da contratação de uma manicure até alugar um apartamento, passando pela reserva de patinetes na rua e carteira virtual que permite pagar refeições via QR Code (código formado por quadrados que é escaneado pela câmera do celular).
A maior parte delas vem sendo trazidas para o aplicativo a partir de parcerias com outras empresas, boa parte delas startups, como GetNinjas (serviços gerais), Singu (estética) e Grow (mobilidade).
A companhia também anunciou no final de junho que vai oferecer cartões pré-pagos para consumidores, o que pode ampliar o uso de sua carteira virtual. Segundo Fernando Vilela, diretor de crescimento da startup, a estratégia de parcerias permite que as duas empresas envolvidas ganhem. a Rappi por aumentar a gama de serviços oferecidos e a outra empresa por ter mais um canal de vendas.
Para o consumidor, o superapp simplifica as coisas, diz. “Você dificilmente terá ao mesmo tempo um aplicativo de restaurante, um de passeio de cachorro, um de diarista, um de carteira digital, outro de delivery de supermercado e outro de patinete.”
Sua principal competidora, a Movile, é uma holding que controla uma série de aplicativos, como iFood (comida), Sympla (ingressos), Wave (envio de mensagens por empresas) e Superplayer (música).
Helisson Lemos, diretor de operações da Movile, diz que a abordagem escolhida pela empresa, de ter cada serviço especializado em uma atividade, em contraposição a do superapp permite olhar cada área de atuação com mais atenção.
Por outro lado, mesmo sem unir todos os serviços em um aplicativo só, existem muitas sinergias entre os negócios do grupo que fortalecem a todos, diz Lemos. “Acreditamos mais em uma visão de ecossistema, de negócios independentes, mas com produtos que aproveitam sinergias entre eles”, diz.
Como exemplo, ele cita o uso do serviço da Zoop, empresa investida pelo grupo que fornece tecnologia para pagamentos, por vários de seus aplicativos e a criação neste ano de uma carteira digital, para a qual o cliente pode transferir dinheiro para pagar por serviços nos aplicativos da Movile.
O iFood recebeu US$ 500 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) em investimentos no final de 2018. Além das duas empresas de tecnologia, o Grupo Pão de Açúcar também decidiu entrar na mesma disputa, ao adquirir a startup James Delivery, de compra e entrega de produtos via motoboy em outubro de 2018.
Antonio Salvador, diretor executivo de transformação Digital do GPA, diz que a incorporação do aplicativo permite à rede se adequar ao modo como parte de seus clientes gostam de comprar.
Segundo ele, ter o aplicativo dentro da empresa favorece uma integração maior entre os mercados e o serviço da startup do que no caso de seus rivais. O Pão de Açúcar já teve a Rappi como parceira, antes do James. Segundo Salvador, como agora há a maior integração entre os sistemas, e o mercado está mais maduro para entregas do tipo, os resultados estão sendo o dobro dos obtidos com a parceira anterior.
“Supermercado é um ambiente muito desafiador. Queremos ter a maior integração possível, melhorando a gestão do estoque, facilitando a passagem do entregador pela loja”, diz. Assim como a Rappi, o James espera ampliar suas funcionalidades a partir de parcerias para se tornar um superapp, diz Lucas Ceschin, fundador da startup.
Fonte: Panorama Farmacêutico