Em entrevista exclusiva o presidente da CVS Caremark, segunda maior rede de farmácias dos Estados Unidos, diz que a compra da Onofre foi só o começo. “A nova classe média vai consumir mais produtos de saúde e beleza”, afirma.
O americano larry Merlo, principal executivo da CVS Caremark, um colosso com mais de 7 000 farmácias espalhadas pelos Estados Unidos e faturamento anual superior a 120 bilhões de dólares, estremeceu o setor no Brasil ao anunciar, no começo de fevereiro, a compra do controle da rede de drogarias Onofre, oitava do ranking nacional.
Os detalhes do negócio não foram divulgados, mas estima-se que tenha rondado os 600 milhões de reais — Marcos e Ricardo Arede, da família que fundou a Onofre, continuam à frente da operação. Mais do que a cifra, no entanto, o que impressionou as drogarias locais foi o movimento.
A chegada de uma das duas gigantes americanas (a outra é a Walgreens) aumentou a expectativa de que o processo de consolidação por aqui vai ser acelerado pela própria CVS Caremark e pela atuação de outras grandes empresas estrangeiras. Nesta entrevista exclusiva, Merlo não dá margem a dúvidas. “Nos Estados Unidos, sempre buscamos estar entre os três maiores do mercado. Nossa meta é manter esse padrão no Brasil.”
EXAME – Por que a CVS Caremark escolheu o Brasil para sua estreia fora dos Estados Unidos?
Larry Merlo – Primeiro porque se trata de um mercado em estágio de amadurecimento. Portanto, com forte potencial de expansão para os nossos negócios. Com a ascensão social das camadas mais pobres da população brasileira, haverá um aumento das vendas de produtos de saúde e beleza. O mercado brasileiro tem outras características positivas. Parece bastante receptivo a redes de farmácias e é fragmentado. Existem muitos competidores, mas o primeiro colocado não tem mais do que 10% de participação.
EXAME – Isso significa que mais aquisições estão por vir?
Larry Merlo – Nossa prioridade é trabalhar com o Marcos e o Ricardo para aprendermos mais sobre o funcionamento do mercado brasileiro. O foco inicial é dar todo o suporte para que os dois nos ajudem no plano de expansão orgânica que temos. Se surgirem oportunidades, é claro que vamos avaliar.
EXAME – Quantas lojas a CVS Caremark pretende ter no Brasil?
Larry Merlo – Ainda não temos um número específico de lojas ou de participação de mercado que queremos atingir. No curto prazo, o mais importante é entender o Brasil e, ao mesmo tempo, planejar como vamos crescer de maneira sustentável. Operamos mais de 7 000 drogarias nos Estados Unidos e acreditamos que podemos utilizar essa experiência aqui. Vemos o país como uma joia a ser lapidada.
EXAME – Por que a Onofre? Não parece estranho a CVS Caremark começar no Brasil com uma rede que tem menos de 50 lojas?
Larry Merlo – O primeiro ponto é que a Onofre é uma rede de franquias de alta qualidade e inovadora. Percebemos isso na parte de gerenciamento de produtos e também no comércio eletrônico. Estamos convictos de ter escolhido o parceiro certo para a estreia no Brasil.
EXAME – Qual é o potencial de crescimento da Onofre?
Larry Merlo – Prefiro não dar um prazo nesse início de operação. Mas garanto que o nosso objetivo é aumentar a participação de mercado nas áreas em que podemos competir. Nos Estados Unidos, sempre buscamos estar entre os três maiores do mercado. Com certeza, nossa meta é manter esse padrão no Brasil.
EXAME – O senhor imagina maiores dificuldades no Brasil por não poder vender alimentos e bebidas nas farmácias?
Larry Merlo – Nos Estados Unidos, temos o costume de vender produtos que não sejam de saúde e beleza, é verdade. Mas, independentemente das diferenças entre os mercados americano e brasileiro, estamos confiantes de que poderemos aproveitar nossa experiência na operação da Onofre.
EXAME – Muitos falam que está caro investir no Brasil. É verdade?
Larry Merlo – Posso garantir que enxergamos a possibilidade de ter bons retornos sobre o investimento que fizemos. Diante dos indicadores da Onofre e do potencial do mercado brasileiro, estamos bastante tranquilos com a estratégia que decidimos adotar.
Fonte: Revista Exame