A rede CVS quer explorar a expansão do varejo farmacêutico no Brasil, que cresceu 16,5% até novembro de 2012.
A Drogaria Onofre está longe das primeiras posições do mercado de redes de farmácias no Brasil. Com um faturamento de R$ 450 milhões e 44 lojas, ela é a apenas a oitava em receita. Mas a empresa comandada pelo empresário Marcos Arede, em conjunto com o seu irmão e sócio Ricardo, ambos da terceira geração da família que fundou o negócio, conseguiu seduzir a gigante americana CVS Caremark, a maior empresa do varejo de medicamentos do mundo, com faturamento de US$ 123 bilhões, e dona da segunda maior rede de farmácias dos Estados Unidos, com 7,3 mil lojas, e maior concorrente da rival e conterrânea Walgreens. Os seus encantos? A Onofre possui a maior receita por metro quadrado do setor, segundo a empresa de pesquisas Euromonitor.
Em média, cada ponto embolsa R$ 10 milhões por ano. A Raia Drogasil, a maior do setor, por exemplo, consegue arrecadar 40% menos nos seus 776 pontos de venda. Por essas razões, a CVS comprou 100% do capital da família Arede e assumiu o controle da Drogaria Onofre, em sua primeira investida fora dos Estados Unidos. O valor do negócio não foi revelado, mas estima-se que os americanos tenham concordado em pagar em torno de R$ 600 milhões, valor que seria superior a 20 vezes o Ebitda (medida de geração de caixa), de acordo com fontes ouvidas por DINHEIRO. “Vemos o Brasil como um mercado atraente, que deve crescer acima de 10% anualmente, na próxima década”, afirmou Larry Merlo, o CEO da CVS, durante teleconferência na quarta-feira 6.
Os irmãos Arede, que não se pronunciaram, vão permanecer na gestão da empresa. “A CVS levou junto o passe dos dois, já que eles têm o expertise do negócio”, afirma uma fonte do setor, que acompanhou a negociação. Mantendo esse conhecimento dentro de casa, a CVS quer aproveitar melhor a expansão do varejo farmacêutico no Brasil, que cresceu 16,5% até novembro de 2012. Muito acima dos 4% do mercado americano. “A aquisição da Onofre é como colocar o dedo na água”, diz Merlo. “O mercado brasileiro ainda é altamente fragmentado, então vemos grandes oportunidades de crescimento.” A transação deve estimular ainda mais a onda de consolidação do setor, que já conta com grandes grupos como a Raia Drogasil, a DP SP e a Brazil Pharma.
“O nome do jogo em varejo é escala, para pulverizar os custos de marketing, com áreas de operações, de compras e para ganhar poder de barganha”, afirma Eduardo Seixas, sócio da consultoria americana de varejo Alvarez & Marsal. Foi exatamente isso o que motivou a Profarma, terceira maior distribuidora de medicamentos do Brasil, com faturamento de R$ 3,1 bilhões. Neste ano, ela anunciou sua entrada no varejo com a compra de três empresas. Nas duas últimas semanas de janeiro, ela comprou as redes Drogasmil e Farmalife, ambas do grupo mexicano Casa Saba, e 50% da carioca Tamoios. Com isso, somará 142 lojas e um faturamento anual de R$ 700 milhões.
“Foi uma medida defensiva”, diz Sammy Birmarcker, CEO e presidente do conselho da empresa, que passou cinco décadas apenas distribuindo remédios para as farmácias. Mas, ao se tornar também uma concorrente de seus clientes, a empresa deverá optar por uma estratégia cautelosa de crescimento. “Não vamos adotar políticas suicidas de preços”, afirma Birmarcker. “Se exagerarmos no varejo, podemos ser punidos no atacado.” A empresa acredita que, mesmo assim, pode elevar a sua margem de lucro operacional, dos atuais 2,5% para acima de 4%. E, dessa forma, experimentar um pouco do gostinho que tanto atraiu a CVS à Onofre: o de um mercado lucrativo e em expansão.
Fonte: Revista Isto É Dinheiro