Governo cogita extinguir o Programa Farmácia Popular para viabilizar o novo Renda Brasil, o que afetaria o acesso de 21 milhões de brasileiros a medicamentos.
A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que representa 45% da venda de medicamentos no Brasil, vê com extrema apreensão o possível fim do Farmácia Popular. O governo federal cogita extinguir o programa para viabilizar o novo Renda Brasil.
O Farmácia Popular está em vigor desde 2004 e, mensalmente, atende cerca de 21 milhões de brasileiros que utilizam medicamentos de uso contínuo para o tratamento de doenças como asma, diabetes e hipertensão. Desse total, cerca de 2/3 (14,2 milhões) utilizaram, entre janeiro e julho deste ano, as grandes redes de farmácia para obter esses medicamentos com descontos de até 90%. O movimento total chegou a R$ 457,5 milhões, índice 17% superior ao do mesmo período do ano passado.
Atualmente, 28 mil farmácias particulares participam do programa, contribuindo para cobrir as lacunas da rede pública na distribuição de remédios em 5.600 municípios brasileiros. “O Farmácia Popular é considerado, pelo próprio governo e por avaliações feitas em todo o Brasil, o mais bem-sucedido projeto de saúde pública do país. Sua extinção seria lamentável e comprometeria a adesão ao tratamento com medicamentos, o que geraria um custo ainda maior para os cofres brasileiros”, avalia Sergio Mena Barreto, CEO da Abrafarma.
Outros números ajudam a ressaltar a importância do programa. Segundo uma análise do economista Pedro Américo de Almeida Ferreira, realizada para sua dissertação de mestrado e ganhadora do 36º Prêmio BNDES de Economia em 2016, o Farmácia Popular salvou mais de 113 mil vidas e reduziu em quase R$ 150 milhões os gastos com internações.
Em novembro de 2017, o governo já havia sinalizado a intenção de acabar com o programa, chegando a fechar 400 lojas da rede própria. No ano seguinte, cogitou reformular o modelo de pagamento para estabelecimentos particulares credenciados. “A farmácia popular pode ser aperfeiçoada e o setor farmacêutico está aberto ao debate. Mas simplesmente acabar com o programa, de forma unilateral, condenaria o país a conviver com doenças e tratamentos de saúde interrompidos”, comenta. “O programa corresponde a apenas 1,4% das nossas vendas, mas para a população carente, representa 100% de sua chance de tratamento. Para quem precisa dele, é a diferença entre viver e morrer”, adverte.