Apesar do recente investimento das grandes redes de farmácias e dos grupos associativistas no gerenciamento por categorias, estimulados pelo aumento da concorrência, o setor ainda está dando os primeiros passos no desenvolvimento da estratégia. Para que se torne algo naturalizado na operação, como já ocorre no varejo alimentar, deve demorar ao menos cinco anos.
A avaliação é da consultora especializada no setor, Silvia Osso. “Nos últimos três anos todo mundo tem começado a falar que faz gestão por categorias, mas é conversa. O que as grandes redes fazem hoje é o que eu chamo de ‘arrumação’ por categorias”, afirma.
A especialista, que por 25 anos trabalhou na Drogasil, acrescenta também que mesmo em se tratando da organização dos produtos muitas redes deixam a desejar. “As vezes você entra na loja e vê que nem mesmo toda a categoria está agrupada; e quando você analisa a prateleira você percebe que o produto que está em cima não é o que mais vende ou o que tem a maior margem”, exemplifica.
A diretora da consultoria Mind Shopper, Alessandra Lima, afirma que de fato o desenvolvimento do gerenciamento por categorias no setor de farmácias ainda não possui a mesma maturidade que se vê no varejo alimentar. Ela aponta, no entanto, que nos últimos quatro anos o interesse do ramo na aplicação da estratégia tem crescido consideravelmente. “As grandes redes estão estruturando áreas de gerenciamento por categorias e têm começado a demandar cada vez mais esse processo das indústrias”, ressalta.
Ela explica que o maior interesse se deu, em parte, pela consolidação do setor, com os recentes movimentos de fusões e aquisições. Isso fez, em sua visão, com que o cenário competitivo ficasse ainda mais difícil. “Dessa forma, não dá mais para crescer só com expansão, e é necessário buscar outras plataformas de crescimento. Surge essa preocupação de trazer mais incremento para a loja através do desenvolvimento das categorias”. Silvia concorda e acrescenta que esse é um processo natural e que está ligado a profissionalização cada vez maior do ramo.
O diretor geral da Farmarcas, administradora de redes associativistas que engloba oito grupos e mais de 500 drogarias, Paulo Costa, afirma que foi justamente esse o motivo que levou a empresa a começar a trabalhar na gestão das categorias, há cerca de dois anos. “É uma forma de se diferenciar. Quanto você aplica na loja você percebe que a performance realmente melhora.”
Ele conta que nas lojas da rede o foco atualmente é apenas no gerenciamento da categoria de MIPs (medicamentos isentos de prescrição), mas que a intenção é ampliar o escopo. Sobre o desempenho, Costa afirma que houve um incremento de cerca de 30% no faturamento da categoria após o início do trabalho.
“As lojas novas que abrimos já têm por padrão uma área para as MIPs, com mobiliária e nomenclatura padronizadas. Tem toda uma sistemática que até mesmo a cor do espaço remete ao sintoma da doença.”
Dificuldade
A respeito do trabalho realizado pela Farmarcas e por outras drogarias ligadas à Federação Brasileira de Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrarfar), Silvia afirma que é um dos cases mais avançados, junto com a Raia Drogasil. “Mas se você for conferir no ponto de venda se essa arrumação está no mesmo nível do que a de um supermercado que realmente faz gerenciamento por categorias, você vai ver que está anos luz de distância”, afirma a consultora.
Um dos principais empecilhos para isso, de acordo com Silvia, é o relacionamento do varejo com a indústria, que ainda é fraco no setor farmacêutico. “O varejo alimentar sempre teve muito investimento da indústria, o que fez com que ele se qualificasse muito mais rápido. Já a produção farmacêutica sempre investiu menos, portanto tudo que as drogarias queriam fazer tinha que sair diretamente do resultado delas”, explica.
Ela acrescenta que foi justamente esse cenário que fez com que o varejo alimentar caminhasse mais rápido e o farmacêutico ficasse para trás, em termos de gestão.
Fonte: Jornal DCI – SP