Grupo americano CVS negocia a compra da Onofre

Grupo americano CVS negocia compra da OnofreO mercado de varejo farma brasileiro atrai novos investidores pelo potencial de crescimento do setor e pelos bons resultados dos últimos anos. O ritmo de expansão é pelo menos duas vezes maior que o de outros mercados.

Maior grupo de varejo farmacêutico e serviços de saúde dos Estados Unidos, a CVS Caremark está em negociações avançadas para a aquisição do controle da rede de drogarias Onofre, a oitava maior do setor no Brasil. As conversas já duram cerca de um ano e, segundo interlocutores próximos à negociação, se a operação for concluída, a família Arede, dona da Onofre, se tornará minoritária e ficará na gestão da empresa por alguns anos.

O Valor apurou que a CVS vai pagar R$ 650 milhões para adquirir o controle da Onofre e assumir as dívidas da rede. As conversas envolvem a venda de 80% da brasileira para a cadeia americana – o comando da CVS só aceitava iniciar as conversas se pudesse ficar com o controle da varejista. Pelos cálculos feitos, o valor em negociação equivale a 12 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) da empresa. Uma equipe de assessores do Barclays recebeu o mandato de venda da companhia e está à frente das negociações.

Procurada, a Onofre informou em nota que “não confirma as negociações com a CVS e repudia especulações sobre percentuais da empresa e avaliação da mesma”. Por comunicado, a CVS informou que não comenta rumores e a assessoria do banco Barclays disse que não se manifestaria.

Ao longo do ano, surgiram informações no mercado sobre o interesse da CVS e da rival Walgreens em entrar no Brasil. Ambas sondaram redes locais. Se a operação da CVS for concluída, será a primeira grande aquisição por um grupo estrangeiro do varejo de farmácias no país. O setor é extremamente pulverizado e tem características diferentes do mercado dos EUA.

A CVS é a maior empresa da área de varejo de farmácias e serviços de saúde, prestados dentro das lojas. A empresa soma quase 7,5 mil lojas nos EUA e em Porto Rico. Se concluir o negócio aqui, terá sua primeira operação em um grande país emergente. De janeiro a setembro, a CVS obteve receita de quase US$ 92 bilhões, enquanto a Walgreens vendeu no último ano fiscal cerca de US$ 71 bilhões.

No entanto, ao se considerar só o negócio de varejo, a CVS é menor que a Walgreens. Em 2011, a CVS vendeu US$ 40 bilhões nas lojas e a concorrente, US$ 45 bilhões.

Até então, o movimento estrangeiro mais significativo no varejo farmacêutico nacional havia sido a entrada dos chilenos da Ahumada, que em 2000 adquiriram 77% da Drogamed, rede com pouco mais de R$ 200 milhões em vendas na época. A rede foi vendida seis anos depois para um investidor brasileiro. Em 2008, o grupo mexicano Casa Saba adquiriu 100% da Drogasmil por cerca de R$ 180 milhões e permanece no negócio.

Há diversas empresas do exterior interessadas em investir no país, mas o desejo esbarra na burocracia e na baixa rentabilidade do varejo de medicamentos. Por isso, as farmácias ampliam o mix de produtos, para itens como cosméticos, que permitem uma maior margem de lucro.

O modelo da americana CVS, parecido com uma loja de conveniência – com a venda de bebidas, alimentos e produtos de limpeza, com rentabilidades altas – não poderá ser replicado no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impõe restrições à venda desses itens em farmácias.

Apesar dessas limitações, o mercado brasileiro atrai novos investidores pelo potencial de crescimento do setor e pelos bons resultados dos últimos anos. Segundo dados da Abrafarma, as vendas líquidas das drogarias atingiram R$ 20,6 bilhões em 2011, um avanço de 26% sobre o ano anterior. O lucro bruto cresceu 24,6%, para cerca de R$ 5,2 bilhões. É um ritmo de expansão pelo menos duas vezes maior que o de mercados maduros.

Esse interesse de redes internacionais deve acelerar o processo de consolidação já iniciado no país. Em agosto de 2011, Drogasil e DrogaRaia se uniram e criaram a maior rede de varejo do segmento no país. Menos de um mês depois, a Drogaria São Paulo e a Drogaria Pacheco anunciaram uma associação. Ao mesmo tempo, a Brazil Pharma, do banco BTG, concluiu aquisições de redes médias regionais.

Nesse cenário em que os grupos começam a definir suas estratégias de crescimento a longo prazo, via aquisição ou fusão, a Onofre teve que se movimentar para não ficar para trás, segundo uma fonte próxima à rede. Com um sócio, a rede conseguirá injetar capital novo na operação, num momento em que ganhos de escala são fundamentais, ao mesmo tempo em que os donos poderão continuar no negócio, com uma fatia minoritária.

Fonte: Valor Econômico