Com 7,4 mil pontos de venda nos EUA, chegada da CVS pode representar para o mercado de drogarias uma transformação semelhante à experimentada pelo varejo de alimentos nos anos 1990, quando redes como Walmart chegaram ao Brasil.
Um negócio envolvendo uma rede de médio porte pode abrir a porta para mudanças significativas no mercado brasileiro de farmácias: a rede Onofre, com 44 lojas, foi adquirida pela americana CVS. O mercado espera que a líder no segmento nos Estados Unidos – com 7,4 mil lojas, receita de US$ 123 bilhões no ano passado e participação de 20% da venda de medicamentos prescritos – tenha apetite para incomodar as atuais líderes de mercado no País.
A compra da Onofre foi anunciada de maneira discreta ontem pela CVS. O valor da operação não foi revelado, mas é estimado em R$ 600 milhões por fontes de mercado. O mais importante, no entanto, é que esse é o primeiro passo do projeto de expansão internacional da gigante americana. Por isso, analistas dizem ser pouco provável que o projeto brasileiro da CVS fique restrito à Onofre. Apesar da consolidação recente, o mercado local de drogarias ainda é bastante pulverizado e oferece oportunidades tanto por crescimento orgânico quanto por aquisições.
A chegada de uma gigante internacional do porte da CVS pode representar para as drogarias uma transformação semelhante à experimentada pelo varejo de alimentos nos anos 1990, quando redes como Walmart e Sonae aportaram no País. “Esse é o verdadeiro início da internacionalização do setor de farmácias”, afirma o consultor Alberto Sorrentino, sócio da GS&MD – Gouvêa de Souza. Segundo ele, o movimento deverá acelerar a expansão das redes locais e poderá motivar a vinda de outras redes internacionais ao País.
A razão de tanto interesse pelo Brasil é econômica. Nos Estados Unidos, CVS, Walgreens e RiteAid dominam quase sozinhas o mercado, enquanto em vários países da Europa – incluindo a Alemanha, maior economia do continente – a venda de medicamentos é regulamentada e controlada pelo governo. No Brasil, enquanto isso, relatório do Bank of America Merrill Lynch aponta que as três maiores redes do País respondem por apenas 24% do faturamento do setor.
A alta pulverização do mercado brasileiro é evidenciada pelo número de lojas das líderes de mercado. Por aqui, DPSP (união das drogarias Pacheco e São Paulo) tem 710 lojas, enquanto Raia Drogasil soma 828. Nos Estados Unidos, a CVS tem 7,4 mil pontos de venda e sua principal rival, a Walgreens, soma 8 mil. “Para crescer rapidamente, a solução da CVS pode ser a compra de outra rede regional importantes”, diz o sócio da Business to Lawyers – B2L, Rubens Gaspar Serra. A mineira Araújo, a gaúcha Panvel e a paranaense Nissei estão entre as redes mais assediadas por investidores.
Hora de ceder
A formação de grupos maiores tende a acelerar a saída de grupos regionais de médio porte. Para Serra, a Onofre se decidiu pela venda porque não tinha condições de empreender uma expansão diante de concorrentes com mais poder de investimento, como Raia Drogasil, DPSP e a BR Pharma, braço de farmácias do banco de investimentos BTG. “Eles tentaram migrar para o varejo online, mas esbarram na regulação, que restringiu mais a venda de medicamentos sem receita”, explica o sócio da B2L.
Há cerca de um ano, quando as conversas com a CVS já tinham começado, os irmãos Marcos e Ricardo Arede tentaram uma última cartada para evitar a venda da empresa fundada pelo avô deles há mais de 80 anos. No fim de 2010, decidiram que abririam uma loja em cada mercado importante do interior paulista. Essas unidades serviriam como pontos de apoio à estratégia de e-commerce. Em um primeiro momento, a meta era abrir 15 lojas ao longo de 2012. No entanto, como o projeto não vingou, a rede só agregou cinco pontos de venda no ano passado. Nos últimos meses, o mercado já dava como certa a venda da operação.
Com a conclusão do negócio, o destino dos Arede ainda é incerto. Para Alberto Sorrentino, da GS&MD, as relações da família no País são vitais para guiar os primeiros passos da CVS no Brasil – logo, pelo menos temporariamente, eles devem permanecer na companhia. Ontem, fontes de mercado afirmavam que a família ainda seguiria como sócia minoritária do empreendimento, com uma fatia de 20%. No entanto, embora não tenha divulgado nenhum detalhe sobre a compra da Onofre, a assessoria de imprensa da rede americana confirmou ao Estado de que se trata de uma aquisição de 100% do negócio.
Fonte: O Estado de S.Paulo