Remédio rápido pode impedir acesso aos medicamentos

Uma parceria entre a prefeitura de São Paulo e a rede privada de farmácias para comercializar os medicamentos fornecidos, atualmente, pela rede pública de saúde pode dificultar ainda mais o acesso da população aos medicamentos, diz o Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sinfar-SP).

Embora o prefeito João Doria ainda não tenha anunciado oficialmente o programa Remédio Rápido e os detalhes de seu funcionamento, o Sindicato afirma que a medida cogitada pela prefeitura de fechar as farmácias dos postos de saúde pode complicar o acesso da população aos medicamentos. A justificativa do Sindicato é que a maioria da população que usa o Sistema Público de Saúde (SUS) mora na periferia e, por isso, a locomoção até o centro da cidade, onde estão localizadas as grandes redes de farmácias privadas, poderia ser um impeditivo na aquisição da medicação.

Segundo a secretária-geral do Sinfar-SP, Renata Gonçalves, o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara, convocou reunião com a entidade e representantes do setor no dia 24 de janeiro para apresentar o projeto, mas, na ocasião, a Sinfar-SP já havia se pronunciado contra o programa.

“Oferecer medicamentos na rede pública de saúde é uma obrigação do município. Eles (Prefeitura) estão querendo a privatização dos medicamentos”, diz.

A reportagem do DCI procurou a Secretaria Municipal de Saúde para falar sobre o programa, mas a Secretaria informou que não irá se pronunciar à respeito das questões envolvendo o Remédio Rápido até ele seja oficialmente anunciado pelo prefeito João Doria. A previsão é que este anúncio aconteça no final de março. Por enquanto, para sanar a falta de remédios no sistema público de saúde, Doria adotou uma estratégia emergencial. A prefeitura fechou parceria com 12 laboratório farmacêuticos para doar os remédios. Com a medida, a prefeitura economizou R$ 40 milhões, gasto mensal da rede pública de saúde com remédios.

Desemprego

O Sindicato também se preocupa com as demissões, que podem desempregar cerca de 2 mil pessoas, entre técnicos e farmacêuticos que trabalham na rede pública de saúde. Segundo Gonçalves, o secretário de Saúde disse, no dia da reunião com a entidade, que não haveria demissões, mas não garantiu como a classe não seria afetada. “Nos preocupamos porque estamos em um momento de crise e ele não assinou nenhum papel assegurando o emprego após o fechamento das farmácias do SUS”, diz o sindicalista.

Usuários SUS

Para o músico de 61 anos, José Lourenço Sobrinho, de Pirituba, a medida não será ruim, desde que a prefeitura firme parceria com drogarias que estejam localizadas nas proximidades dos moradores que utilizam o SUS. Segundo ele, uma das grandes dificuldades do SUS não é conseguir o remédio, mas encontrar o medicamento na rede. A designer gráfica, Ana Carolina Soares, de Embu das Artes, recorreu ao SUS em uma crise de sinusite e, segundo ela, houve mal atendimento e dificuldade em conseguir o medicamento prescrito pelo médico. “Mesmo que o SUS não seja ótimo, acho perigoso comercializar remédios na rede privada. Isso pode inibir o usuário do SUS, que não está acostumado a usar drogarias, e também levá-lo a fazer gastos que não pretendia”, disse Ana Carolina.