As dores de cabeça do varejo farmacêutico

Trabalhar de maneira profissional, atualizar a estrutura física e gerencial, priorizar a qualidade no atendimento ao clientes e na prestação de serviços, além de explorar seu mercado com ações ativas de marketing  é a saída para a sobrevivência das farmácias independentes e de bairro.

“As farmácias de bairro estão com os dias contados”, diz o comerciante e funcionário público Luiz Cavalcanti, que comanda ao lado de seu pai, o empresário Luiz Prestes, de 80 anos, a Farmácia Confiança. O estabelecimento funciona desde 1971, na Rua do Espinheiro, no bairro de mesmo nome. Durante este tempo, os dois chegaram a possuir, inclusive, uma filial na vizinha Encruzilhada, que fechou as portas por conta das dificuldades de acesso, como falta de estacionamento e trânsito intenso. A afirmação pessimista do negociante faz parte do novo “perfil” e reorganização do mercado de farmácias no Estado, que está sendo invadido pelas grandes redes do setor.

A concentração de diversas farmácias e drogarias em torno de um único grupo é uma nova tendência do setor varejista de medicamentos no País. Recentemente, em Pernambuco, os pequenos empresários do segmento sofreram um “duro golpe”. Isso porque a Brazil Pharma, holding das farmácias BTG Pactual que já controla no Estado as Farmácias Guararapes, comprou o Grupo paraense Big Ben por R$ 453,6 milhões. A negociação, realizada no início de novembro de 2011, coloca nas mãos da Brazil Pharma mais 146 lojas nas regiões Norte e Nordeste, distribuídas pelos Estados do Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Paraíba e Pernambuco.

“Este tipo de negociação acaba com o pequeno dono de farmácia. Por ter um forte poder de compra, eles negociam preços bem menores com os fabricantes. Para você ter ideia, num remédio de prescrição médica, o preço deles é, em média, 10% menor que o nosso. Já nos medicamentos populares, como vitaminas, este percentual chega a 30%”, diz Luiz Cavalcanti, frisando que os pequenos vêm sobrevivendo graças ao bom atendimento e fidelização dos clientes. “Muitos dos meus clientes foram criados no bairro, moravam por aqui, perguntam pelo meu pai. A gente tenta negociar um bom preço sempre, mas às vezes é difícil”, reclama.

A reportagem do PE247 entrou em contato com executivos das redes Big Ben e Guararapes para saber se os planos de expansão das duas marcas ainda estão mantidos em Pernambuco. A Big Ben, por exemplo, chegou a anunciar um plano de 40 novas lojas no Estado até 2013. Já a Guararapes, que já havia adquiridos 23 pontos da tradicional Farmácia dos Pobres, pretendia fechar 2011 com 90 lojas em Pernambuco. “Desde o começo de dezembro que não podemos falar sem a autorização do departamento de comunicação em São Paulo. Nossa companhia (Brazil Pharma) está presente em 15 Estados e é preciso uma uniformidade do discurso”, garantiu o presidente da Guararapes, Gilberto Portela. Já a responsável pela Big Ben em Pernambuco, Renata Milfont, pediu para a reportagem retornar a ligação no final de janeiro do ano que vem, quando “as coisas estiverem mais certas”.

Comerciantes sem saída

Além das grandes redes que estão concentrando as vendas no mercado, os micro e pequenos empresários do setor farmacûtico ganharam um forte concorrente nos últimos anos: as farmácias instaladas em supermercados. O grupo norte-americano Wal Wart, que controla no Brasil as marcas Bompreço e Hiperbompreço, está de olho no potencial deste mercado. Em Pernambuco já estão instaladas 24 Farmácias Bompreço nos supermercados, sendo 14 delas na cidade do Recife. “As pessoas vão comprar comida e terminam levando um remédio”, aponta Luiz.

O aparecimento das farmácias com este perfil “multi-funcional” também não vem agradando o Sindicato de Farmácias de Pernambuco (Sincofarma-PE). O presidente da instituição, o empresário Ozeas Gomes, acredita que as farmácias estão perdendo o sentido social, cuja essência é vender remédios. “Hoje, você compra celulares, produtos, chocolates e até bebidas. Não existe uma fiscalização séria para inibir este tipo de comercialização”, argumenta.

Segundo ele, o Sincofarma tentou implantar no Estado uma lei que garantisse um raio mínimo de distâncias entre farmácias. “Não quiseram a proposta, pois afirmaram que o Brasil é um mercado livre, ninguém pode interferir na economia. Mas e esta concentração, quem controla?”, questiona. Segundo ele, o aparecimento destas redes deve comprometer, no futuro, a permanência dos pequenos empresários do setor.

Fonte: PE 247