A oferta da Teva Pharmaceuticals de US$ 40 bilhões pela Mylan coloca em evidência uma empresa que há muito é um pilar da economia israelense e um nome dominante no mercado mundial de medicamentos genéricos de baixo custo. Caso seja bem-sucedido, o negócio vai reforçar sua liderança no mercado de genéricos – versões que são cópias de medicamentos de marca, mais caros – e protegê-la da perda de patente, em breve, de seu medicamento de maiores vendas, o Copaxone, contra a esclerose múltipla.
A Agência de Remédios e Alimentos americana (FDA, na sigla em inglês) deu luz verde na semana passada para a primeira versão genérica do Copaxone, que representou 20% da receita da Teva e quase metade do lucro em 2014, o que aumentou a pressão sobre a empresa israelense para encontrar novas fontes de crescimento.
Assim como a Teva, a Mylan combina forte presença nos genéricos com seu próprio produto com direitos registrados, de maior margem de lucro – o EpiPen, um tratamento emergencial para reações alérgicas, que também enfrenta a competição de genéricos.
Ao combinar-se com a Mylan, a Teva avalia que vai poder gerar economias anuais de custos e impostos de US$ 2 bilhões, que ajudariam as duas empresas a lidar melhor com os desafios pela frente e a desenvolver novos produtos de mais caros. Investidores a vinham pressionando para ser mais agressiva, pois rivais como a Actavis adquiriram operações em fusões e aquisições nos últimos 12 meses.
A Teva havia mostrado em março sinais de que entraria na onda de fusões, quando acertou a compra da Auspex Pharmaceuticals, dos EUA, por US$ 3,2 bilhões, no que o executivo-chefe, Erez Vigodam, chamou de “primeiro passo importante” para impulsionar o crescimento.
A maior empresa israelense em vendas vinha adotando uma abordagem cautelosa em relação às fusões e aquisições desde que comprou a Cephalon em 2011, por US$ 6,8 bilhões, e não obteve os retornos desejados e ainda ficou carregada de dívidas. Isso também marcou o início de um período turbulento para a Teva, que indicou seu primeiro executivo-chefe não israelense – Jeremy Levin, que era da Bristol-Myers Squibb, dos EUA – para comandar a recuperação. Levin saiu em 2013, após confrontar-se com o conselho de administração sobre a estratégia e depois da renúncia, sob pressão de acionistas ativistas, de Philip Frost, presidente do conselho, que trabalha nos EUA e o havia contratado.
A oferta pela Mylan é a primeira grande investida sob a nova liderança de Vigodam e de Yitzhak Peterburg, que sucedeu Frost.
A Teva é maior produtora mundial de genéricos, em termos de vendas, que em 2014 somaram US$ 20,3 bilhões. Com 45 mil funcionários no mundo, a maior parte fora de Israel, sua estratégia é muito acompanhada em seu país natal, especialmente em um momento em que o sentimento geral contra as grandes empresas é forte.
O país foi assolado por protestos sociais em 2011, alimentados pela irritação com o alto custo de vida. Nas duas eleições mais recentes, os políticos que tentavam ganhar o apoio dos eleitores de classe média prometeram cobrar mais das empresas, inclusive com o combate a brecha nas leis tributárias.
Recentes isenções tributárias generosas concedidas à Teva em troca de mais investimentos em Israel estão sob análise minuciosa do governo. A oferta de US$ 40 bilhões – recorde em um país de 8 milhões de pessoas com um pequeno mercado doméstico – é observada de perto em Israel, mas não houve grande reação no país, antes dos feriados de hoje, pelo Dia da Lembrança, e de amanhã, pelo Dia da Independência. A transação, caso seja concretizada, será a maior aquisição internacional em Israel.
Fonte: Valor Econômico