Renda e emprego em alta, juros em queda, envelhecimento da população e um sistema de saúde que deixa com as famílias a responsabilidade pela compra de medicamentos criam um cenário perfeito para o crescimento das redes de farmácias.
Por conta disso, o mercado de drogarias mais que dobrou nos últimos cinco anos. Em 2011, segundo a consultoria IMS Health, o setor faturou R$ 40 bilhões, com crescimento de 18%. De acordo com previsões da Abrafarma (entidade que representa grandes redes de farmácias), neste ano a previsão é de expansão de 15%.
A instituição espera que os negócios dobrem outra vez nos próximos cinco anos.”Junto do aumento do emprego formal vem o aumento nos beneficiários de planos de saúde. Mais gente vai ao médico, o que leva o consumidor a comprar mais remédios”, diz Priscila Tambelli, analista do setor no Banco do Brasil.De acordo com o presidente da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, esse crescimento é puxado principalmente pelas grandes redes do setor, como as gigantes criadas por meio de fusões como RaiaDrogasil e DPSP (junção da Drogaria Pacheco com a Drogaria SP). As cinco maiores redes têm cerca de 30% do mercado, com receitas de R$ 12 bilhões.Segundo ele, as grandes redes perceberam mais cedo que os consumidores estavam interessados em buscar nas redes de farmácias produtos de higiene pessoal e cosméticos e adaptaram seu funcionamento para esse fim.Priscila Tambelli concorda. “Antes elas só vendiam medicamentos. A diferença de preços para supermercados era muito grande. Hoje os preços são bem compatíveis. Alguns até com preços mais baixos. Isso é um fator que faz com que o mercado de drogarias cresça. Tem a praticidade para comprar coisas pequenas que é mais rápido e prático”, diz.Apesar do otimismo, Mena Barreto não vê um crescimento homogêneo. “Há um crescimento forte nas grandes redes. As pequenas estão sofrendo. Estão perdendo espaço ao longo do tempo. As grandes estão tomando espaço das pequenas”, diz.De acordo com o presidente da entidade, as drogarias pequenas e independentes ficaram para trás em questões como gestão e escala. “As pequenas encolhem porque não mudaram a maneira de ver o consumidor. Esse consumidor busca algo que não encontra no supermercado. Muitas vezes essas empresas não dispõem de caixa suficiente para manter um estoque completo”, diz.
Edison Tamascia, presidente da Febrafar, entidade que representa 36 redes com mais de 6 mil lojas pelo Brasil, discorda da avaliação da Abrafarma. Para ele, ainda há espaço para farmácias independentes ou grupos menores.
“O mercado é de oportunidade. As médias e pequenas vão sobreviver. Elas têm o desafio da profissionalização. As empresas que mudarem para se modernizar, melhorando a administração vão sobreviver”, diz.
Depois das grandes fusões envolvendo grandes grupos, é esperada uma fase de acomodação do mercado. Para Tamascia, a consolidação é uma realidade mundial e deve prosseguir, mas com ímpeto menor nos próximos anos.
De acordo com o analista do Bradesco, Ricardo Boiati, as empresas formadas pelas recentes fusões ainda estão em processo de integração, como a RaiaDrogasil. Segundo ele, essas empresas, antes de pensarem em novas aquisições podem crescer organicamente, ocupando espaços em regiões como o Nordeste.
“Não vejo uma grande onda de fusões. Temos quatro grandes grupos: Pague Menos, RaiaDrogasil, Pacheco SP e Brazil Pharma. Essas quatro podem crescer organicamente”, diz.
Segundo ele, a Brazil Pharma tem uma particularidade que é um desafio maior pelo fato de ser formada pela junção de diversos grupos. “A integração é mais difícil porque são muitas empresas. Por ser mais complexo, pode chegar a um resultado melhor na redução de custos e de ineficiências.”
Boiati acredita que a fusão da líder RaiaDrogasil tenha criado muitas oportunidades de sinergia, especialmente em logística. “A concentração é forte em São Paulo, então a empresa pode ganhar implementando melhores práticas de logística. É um processo que deve ficar mais claro até o fim do ano que vem”, diz.
Fonte: Valor Econômico