Odorico Moraes, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), garante que negociações estão sendo feitas, mas ainda não há prazo
Após anos de uso da pele de tilápia como tratamento para queimaduras, pesquisadores trabalham para que o curativo biológico, idealizado no Ceará, chegue a farmácias. Odorico Moraes, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que o processo depende do pedido de registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Estamos dependendo da escolha de uma empresa que possa produzir o medicamento para poder fazer o pedido à Anvisa. Eu como pesquisador não posso fazer esse pedido”, pontua Moraes. Apesar dos avanços da pesquisa e da diversificação dos modos de utilização, o pesquisador diz que ainda não há previsão de chegada nas farmácias, mas garante que negociações estão sendo feitas: “estamos com duas empresas interessadas”.
Estudo feito pelo NPDM em parceria com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) e o Instituto Doutor José Frota (IJF) descobriu o potencial da derme do peixe para o tratamento de queimaduras. O couro é rico em colágeno tipo 1 e tem alto grau de resistência. Inicialmente utilizada apenas no tratamento de queimados, novas possibilidades para a pele vão surgindo.
“Já são 60 tipos de empregos da pele da tilápia na medicina e na cosmetologia também. Hoje no NPDM temos 22 projetos em desenvolvimento para estudar as funções”, aponta Odorico Moraes. 150 profissionais do País e ao redor do mundo participam de pesquisas envolvendo a pele animal para fins medicamentosos.
O modo como esse componente do peixe seria encontrado em farmácias ainda não é certo e depende de outros trâmites, mas o coordenador do NPDM avalia que uma possibilidade é extrair o colágeno da pele e utilizar em forma de creme. O núcleo também estuda a produção de cosméticos.
Técnica transformadora
Enquanto não é possível ter produtos a base da pele de tilápia disponíveis como medicamentos, o tratamento de feridas e queimaduras segue beneficiando pacientes. “Há mais de 50 anos vinha sendo usada a mesma técnica no tratamento de queimadura e agora temos esse tratamento revolucionário e que se mostrou potente, diminui a dor, o custo do tratamento e não há perda de liquidos no processo”, comenta Odorico Moraes.
Em Fortaleza, na sede do NPDM, funciona o primeiro banco de pele animal do Brasil. O laboratório já enviou material para o tratamento das vítimas do incêndio em uma creche de Janaúba, Minas Gerais, em outubro do ano passado, e também já exportou para os Estados Unidos com o objetivo de ajudar animais que sofreram queimaduras.
A técnica também já serviu em um procedimento inédito de reconstrução vaginal de quatro mulheres no Ceará em fevereiro deste ano.
Fonte: Jornal O Povo – Ceará